A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos traz à tona questões importantes para a indústria automotiva, especialmente em relação a políticas ambientais e incentivos à eletrificação de veículos. Durante seu primeiro mandato, Trump demonstrou resistência à regulamentação ambiental e criticou fortemente os veículos elétricos (EVs), propondo políticas que priorizavam carros tradicionais e se opunham a incentivos para o setor de EVs. Em 2024, o novo mandato de Trump poderá impactar significativamente o mercado automotivo americano, com potenciais efeitos também para o Brasil. Vamos entender os principais pontos.
Adesão aos veículos elétricos
O Ato de 2022, implementado na administração Biden, trouxe incentivos ao consumidor para compra de veículos elétricos, incluindo créditos fiscais para veículos montados na América do Norte e com componentes de bateria oriundos dos EUA. O Partido Republicano, entretanto, não apoia plenamente tais incentivos. Trump declarou em sua campanha que eliminaria a "obrigação de adoção de veículos elétricos", referindo-se ao objetivo atual de que 50% dos veículos vendidos nos EUA até 2030 sejam elétricos. Além disso, o documento "Project 2025" defende a liberdade de escolha do consumidor e sugere que apenas o estado da Califórnia tenha o direito de manter suas próprias regulamentações de emissão, retirando a extensão para outros 16 estados que seguem as normas californianas. Dessa forma, as regras de eficiência de combustível, previstas para entrar em vigor nos próximos anos, podem ser descartadas ou enfraquecidas.
A possível redução de incentivo e regulamentação pode fazer com que montadoras americanas voltem a priorizar veículos maiores e movidos a combustíveis fósseis, como SUVs e caminhonetes. Para empresas como Toyota e Stellantis, que ainda possuem uma oferta menor de veículos elétricos em comparação a rivais europeus e sul-coreanos, a nova administração pode trazer um alívio estratégico, já que a pressão para desenvolver linhas elétricas diminui.
Tesla: desafios e oportunidades
Para a Tesla, a reeleição de Trump pode significar um cenário favorável. Elon Musk, CEO da Tesla, tem demonstrado apoio a causas republicanas e financiado campanhas políticas do partido. Em um segundo mandato de Trump, há uma possibilidade de Musk ocupar uma posição de destaque na administração, potencialmente em uma secretaria com impacto direto na regulamentação de veículos autônomos e elétricos. Isso poderia reduzir a fiscalização de tecnologias como o "Autopilot" e o "Full Self-Driving" da Tesla, que atualmente enfrentam investigações de segurança. Além disso, a Tesla pode continuar se beneficiando de fundos destinados à infraestrutura de recarga de veículos elétricos, o que fortaleceria ainda mais sua posição no mercado.
Hoje, as ações da Tesla subiram 13,10% (5,93 pontos) na bolsa, refletindo um otimismo do mercado com as possíveis mudanças. No entanto, a possibilidade de Musk assumir um cargo político levanta preocupações entre os acionistas, que temem que o executivo se distancie das operações da empresa, o que pode afetar o desempenho futuro.
Tarifas de importação para carros e peças
Outro ponto importante na agenda de Trump é a imposição de tarifas elevadas sobre carros e componentes importados, especialmente aqueles provenientes da China. No governo Biden, já existia apoio para proteger a indústria automotiva americana contra importações de baixo custo, incluindo uma tarifa de 100% sobre veículos elétricos chineses. Com Trump no poder, espera-se que as tarifas sobre bens importados sejam ampliadas, o que afetaria não apenas fabricantes asiáticos, mas também marcas europeias que dependem do mercado dos EUA, como Mercedes-Benz e BMW. Este cenário pode gerar um aumento no custo de importados, incentivando as montadoras a expandirem suas fábricas nos EUA, estratégia que já é adotada por algumas marcas.
Reflexos para o mercado brasileiro
A Checkprice monitora de perto o cenário internacional e suas movimentações, pois as políticas adotadas pelos Estados Unidos impactam diretamente o mercado automotivo global, incluindo o Brasil. Mudanças nas tarifas de importação e no incentivo à eletrificação nos EUA podem influenciar os planos de investimento e as decisões das montadoras, afetando o portfólio de veículos disponíveis e o custo para os consumidores no mercado brasileiro. Como resultado, a Checkprice se compromete a acompanhar essas tendências para informar seus clientes sobre possíveis repercussões no mercado interno e preparar o setor automotivo brasileiro para se adaptar a esses novos desafios.
Igor Kalassa, Marketing Checkprice
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