Nos dias de hoje, os carros populares, como o Mobi, Kwid, Onix, Hb20 e Polo Track, são vendidos em suas versões de entrada com motores idênticos de 1.0 12 válvulas aspirado, com potência variando entre 68 cavalos (Kwid) e 77 cavalos (Polo Track). No entanto, esses veículos, que anteriormente poderiam ser considerados opções acessíveis, agora estão sendo comercializados por preços surpreendentemente altos, muitas vezes se assemelhando aos carros importados. Por exemplo, o Renault Kwid, em sua versão de entrada chamada ZEN, é vendido por R$ 69.990,00, oferecendo apenas os opcionais mais básicos, como ar-condicionado, direção assistida e vidros/travas elétricas, além de airbags e freios ABS, que são obrigatórios por lei desde 2014. No entanto, com um preço inicial próximo aos 70 mil reais, espera-se uma gama mais ampla de opcionais. Seu concorrente direto, o Fiat Mobi, também com um preço semelhante, compartilha o mesmo motor 1.0 aspirado, mas apresenta algumas diferenças em relação à segurança, com o Kwid oferecendo airbags laterais adicionais. No entanto, ambos os veículos carecem de características que os destacariam em relação aos seus concorrentes na categoria de carros populares.
A situação piora quando consideramos os líderes de vendas, de acordo com a Fenabrave: Onix, Polo e Hb20, respectivamente, lideram o ranking de veículos na categoria popular. Esses carros partem de preços na casa dos 80 mil reais, quase chegando a 90 mil reais, com poucos opcionais de fábrica. Por exemplo, o Hb20 não possui nem mesmo controle elétrico dos vidros traseiros, ainda dependendo de manivelas. Todos eles apresentam motores 1.0 aspirados em suas versões de entrada, com eficiência de consumo na faixa de 13 a 16 km/l na cidade. Isso é notavelmente diferente de seus predecessores, vendidos no início dos anos 2000 por no máximo 20 mil reais na época.
Para contextualizar, os modelos populares do passado, como o Celta da Chevrolet e o Gol da Volkswagen, custavam cerca de 13 mil e 11 mil reais, respectivamente, em seus lançamentos. Comparando esses valores com os preços das versões de entrada do Onix e do Polo Track atualmente, que são sete a oito vezes mais altos, podemos ver um aumento significativo nos preços dos carros populares ao longo dos anos.
Além disso, quando observamos a inflação no período de 10 anos, ela está longe de justificar o aumento de preços. Para ilustrar, o HB20, que custa R$ 82.290,00, teve um aumento de preço de 120%, o que é muito superior à inflação no mesmo período. Se compararmos esses preços em dólares, levando em consideração a taxa de câmbio atual de R$ 5,03 por dólar, nossos carros populares custariam cerca de US$ 16.360,00, o que é consideravelmente alto.
Lembrando com saudades do Fusca Itamar, um carro popular e charmoso que foi relançado pela VW por US$ 7.000,00. Outras montadoras também lançaram versões semelhantes nesse mesmo patamar de preço. Atualmente, com as políticas de incentivo do governo às montadoras estabelecidas no Brasil, é difícil justificar que um veículo popular custe mais de US$ 10.000,00, especialmente considerando os avanços em segurança e conforto.
Outra observação importante é a diferença de preço antes e depois da pandemia. Todos esses modelos populares sofreram uma redução nos opcionais disponíveis em suas versões de entrada, incluindo acabamentos, itens de série e opcionais em comparação com os modelos disponíveis antes da pandemia. Se considerarmos a desvalorização da moeda, que passou de cerca de R$ 4,20 em janeiro de 2020 para R$ 5,00 hoje, o aumento de preço deveria ter seguido a mesma proporção.
Em resumo, as montadoras no Brasil estão aumentando seus lucros a cada ano, entregando carros que, em muitos aspectos, são semelhantes aos modelos dos anos 2000, com motores e tecnologia ultrapassados. O programa Rota 2030, que visa veículos com emissão zero até 2030, parece estar distante, especialmente considerando que a frota brasileira envelheceu em média 4 anos na última década. Atualmente, é improvável que as montadoras cumpram esse objetivo, dado que ainda estão produzindo motores com tecnologia dos anos 2000. Estamos em 2024, e as narrativas tecnológicas dos motores e câmbios da década de 2000 ainda parecem estar presentes em 2030, o que pode significar que, de acordo com a legislação brasileira atual, os consumidores terão que descartá-los.
É importante notar que as montadoras instaladas no Brasil estão pressionando pela sobretaxação de veículos híbridos e elétricos importados da China por fabricantes como BYD, BWM, JAC e CHERRY. Isso ocorre após a Stellantis reduzir o preço do Fiat 500 elétrico em 20% em resposta à concorrência com o preço do sedã médio da BMW, que está na mesma faixa de preço que muitos carros populares de alto padrão.
Fontes de Pesquisa:
carrosnaweb.com.br
Fenabrave.com.br
Infomoney.com.br
Marcelo Bottura
Head de Pricing da Checkprice.
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